quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Pelo menos me rendeu um post...

    Apesar de ainda não ter compromissos firmados, tenho procurado sair de casa todos os dias não só para resolver algumas questões práticas, como também para espairecer a cabeça e ter novas idéias. De uma forma ou de outra acabo atingindo as minhas metas diárias, seja observando o detalhe mais lindo da cidade ou na experiência dolorosa que é ser uma imigrante.
   Hoje, ao sair para o passeio, eu não imaginava o quanto uma missão objetiva poderia trazer de engrandecimento do espírito ...
    Fiz algumas pesquisas no Google e saí de casa munida de um roteiro das academias de ginástica e escolas de línguas por onde eu gostaria de passar para averiguar  horários, preços e métodos. Entre uma visita e outra aproveitei para passar nos mercadinhos e bater perna no centro da cidade. O dia estava agradável e, ao invés de pegar um tram para ir ao último lugar do dia, uma escola de idiomas mais afastada, resolvi ir andando.
    Demorei algum tempo para encontrar a escola que ficava no sobre-piso de uma loja e assim que entrei me vi em uma elegante recepção com uma moça simpática perguntando o que eu desejava. Expliquei o que eu procurava e, minutos depois, ela me apresentou um cara de terno e gravata que iria me falar sobre a forma de trabalho da escola. Entramos em uma sala e depois de apertar a minha mão no robótico "Nice to meet you" não olhou mais na minha cara.
   Se pôs a fazer perguntas sobre os meus objetivos. Respondi. Depois perguntou de onde eu era. "Ah, Brazil?" E então qual era a minha disponibilidade para estudar. "Ah, todos os dias, qualquer horário?" E depois qual era o meu trabalho. "Ah, não trabalha?" E depois qual seria o meu trabalho no caso de eu ter um. "Ah, trabalhou com marketing, mas por enquanto pensa em ficar um tempo vendo outras coisas?"...
    Nesse momento recolheu discretamente o papel onde escrevia as informações e, continuando sem olhar para mim, se pôs a explicar longamente que a Inlinguas decidiu não trabalhar com pessoas desempregadas porque elas não possuem força de vontade e engajamento e só vão às aulas porque não têm outra alternativa.
    Já que a escola não trabalhava com esse tipo de gente, ele me indicou educadamente outras duas ou três nas quais eu poderia me matricular. Para ser ainda mais meu amigo deu a dica fantástica de sempre perguntar qual é quantidade de alunos por grupo antes de assinar um contrato com essas escolas de segunda categoria. Nelas eu poderia, ainda por cima, encontrar centenas de outros pobres estrangeiros desempregados, como eu, e mensalidades irrisórias subsidiadas pelos impostos que ele paga.
    Eu não estava entendendo bem....  Como é possível descrever alguém que diz indelicadezas com polidez? Ou a arrogância em forma de explicação lógica? Ou o desprezo nos olhos de quem não te vê?
  Saí de lá ultrajada... humilhada... ofendida...  Depois das primeiras semanas de adaptação me senti novamente deslocada,  pequena e sozinha. E tudo porque um fulaninho de terno e gravata me classificou categoricamente de "unemployed"... Estava quase subindo no tram quando dei um passo para trás e decidi  voltar para casa a pé na impossível tentativa de dissipar minha raiva em suor e não em lágrimas.
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PS ao meu amigão aconselhador:
http://www.youtube.com/watch?v=pBX25gm8k2M&feature=related

3 comentários:

  1. Nossa Lô, fiquei indignada com a política dessa escola. Então quer dizer que para eles pessoas que estão momentaneamente sem emprego (até porque optaram por isso) estão fadadas ao ócio para o resto de suas vidas? Que coisa medíocre...Infelizmente, vê-se que a insensatez tb está globalizada! Espero que vc tenha dissipado sua ira em suor, pois não vale a pena derramar lágrimas por uma pessoa que se dispõe a ser "empregado" em uma escola desse tipo.

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  2. Lolô, gente é gente em todo lugar. No melhor e no pior sentido também. País desenvolvido não quer dizer país civilizado no conceito de respeito e humanidade a todos. Coitado deste sujeito quando perceber que as possibilidades da vida vão muito, mas muito, mas muito além do pseudo status que o terno lhe confere , na sua própria e distorcida escala de valores. Contudo acho que pela pobreza de espírito demonstrada ele não tem capacidade para perceber algo assim. Mas, por favor, não se aborreça. Tamanha escrotisse não foi pessoal. Esse tipo de gente (retardado emocional) tem aos montes por aqui também e derramam seu amargor todos os dias sobre muita gente.
    Força na peruca!!!!!!

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  3. Oi lo, nao posso nem te falar que fiquei surpresa com o que voce passou. Como ele voce vai encontrar alguns pela sua frente. Voce sabe o que voce e, tudo o que sempre foi e sempre vai ser. Eu acho que o importante e se defender dos preconceitos. Voce poderia ter chamado o chefe da criatura e reclamado porque isso e preconceito contra estrangeiros.
    Eu sinceramente nao passei por algo igual por aqui, mas ja ouvi muitas palavras nao construtivas e que eu simplesmente chorei e chorei mas passou e so me fez crescer e ter mais forca para provar quem eu sou. A gente muda de pais e se sente como um "empty canvas" mas aos poucos se redescobre e eu acho melhor que nao seja em uma escola mediocre como esta que definitivamente nao serve nem para selecionar seus alunos. Pena para eles nao terem voce como aluna. Um beijao e se cuida, defenda a nossa raca por ai amiga! Saudades, me manda seu tel por ai eu te ligar ;-)

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