terça-feira, 20 de setembro de 2011

Mirim

    Hoje o dia amanheceu anunciando que estamos em uma estação de mudanças. A chuva fina caiu o dia inteiro e a temperatura baixou para nada convidativos 7graus. Tudo bem... eu nem queria sair de casa mesmo! Me plantei na frente do computador e comecei a pesquisar coisas que há muito tempo queria ter visto. Não demorou mais de 1 hora. Depois passei aspirador na casa. E pano. Lavei a roupa. Limpei o banheiro. Passei roupa... Olhei pela janela e a chuva tinha dado uma trégua: Acho que mereço dar uma volta...
    Dei um pulinho até o mercado para comprar os ingredientes da gororoba desta noite e aproveitei para despejar algumas garrafas de vidro nas caçambas de lixo reciclável que ficam perto daqui. Voltei para casa, deixei as compras na pia e saí do prédio para checar se havia alguma coisa na caixinha de correspondência. Nada importante. Mas de repente ouvi alguma coisa atrás de mim... Paft! Eu não acredito! Fiquei para fora de casa sem chave, sem guarda-chuva, sem dinheiro, sem telefone, sem lenço nem documento, nada nos bolsos ou nas mãos...  Eram 19:00h.
    De pé no hall olhei para os lados e comecei a imaginar se eu conseguiria arrombar a minha própria janela ou invadir o quintal do vizinho a fim de escalar a varandinha. Não, acho que seria complexo demais explicar para a polícia de plantão os meus nobres motivos. Então passei a fazer as contas da probabilidade de, interfonando, encontrar algum dos 6 vizinhos em casa e de ele falar inglês ou português ou espanhol ou qualquer língua que pudesse ser minimamente entendida. Não, probabilidade tendendo a zero... 19:15h.
    Agachei e me pus a agradecer por ter saído de casaco e pelo fato de o prédio ter uma marquise sob a qual eu pude me abrigar. Agradeci também pela imbecilidade ter tomado conta de mim num horário em que, supostamente, os suíços estão voltando para casa. Tranquilo, daqui a pouco alguém chega e abre a porta para mim... Duas badaladas :19:30h.
    Sentei no canto que ainda estava seco e, para não me atirar na frente do próximo tram, desviei os pensamentos para os aprendizados que eu poderia absorver nesse acontecimento. Eu poderia, por exemplo, nunca mais sair de casa, ou instalar um sistema ultra-moderno que abrisse a porta pelo reconhecimento da nossa retina, ou poderíamos enterrar centenas de chaves em  locais estratégicos da cidade, ou poderíamos deixar uma chave reserva dentro da caixinha de correspondência, ou poderíamos deixar a chave da correspondência e a da porta de casa no mesmo chaveiro.... O sino indicava 19:45h
    Comecei a contar os trams e os ônibus e os carros e as pessoas que passavam pela rua. Logo passei a contar as pessoas que passavam pela rua e que me viam... É, acho que vou ficar aqui por mais algum tempinho.... 20:00h.
    Meu corpo começou a tremer e as pernas a adormecerem. Então lembrei de um e-mail que recebi esses dias que ensinava como meditar a qualquer horário do dia. A meditação se mostrou um bom remédio para muitos e aquele parecia um bom momento para a minha própria salvação. Cruzei as pernas, posicionei as mãos sobre os joelhos com as palmas para cima e comecei a mentalizar, pelo terceiro olho, uma fechadura gigante... dourada... sempre aberta.... uma senhora.... ela se aproxima.... com um guarda-chuva... com umas sacolas... com uma chave... Click! Entrei em estado alfa... 20:15h.

4 comentários:

  1. Hahahahahahaha!!!!! Sem comentários! (por mais irônco que soe isso aqui)

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  2. Sério, to rindo muito aqui! você não tem idéia...
    Se trancar pra fora de casa é bem coisa de filme de comédia que passa na sessão da tarde!
    huahuauhauha

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  3. Helô, o compasso do tempo, o tema da "agonia" humana, a luta do homem com as "forças naturais"... seu post é um verdadeiro thriller!

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  4. Dri e Tato... pimenta nos olhos dos outros é refresco!

    Carol e Kim, acho que estou mais para "Off the Wall" do que para "Thriller"! hehehe

    Beijoooooooooo

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